terça-feira, 1 de maio de 2012

Os dedos

Essa foi a primeira vez que vi sua imagem. Finalmente eu conseguia visualizar a pessoa com quem eu falava todos os dias e sonhava todas as noites. Estava tudo muito bem até que ele perguntou: está vendo a minha mão? Reparou nos meus dedos??
E então eu entendi tudo....ele era deficiente físico. Tinha perdido os dedos na guerra, imediatamente imaginei. Mas o amor tudo suporta e eu não deixaria de ama-lo por causa de uma deficência. Me senti tão fortalecida naquele momento e queria tanto estar ao seu lado para dar um abraço apertado e dizer o quanto eu o amava. Pela primeira vez na minha vida eu vivia um amor além de todas as fronteiras. Não me importava que tivéssemos idades diferentes, culturas diferentes. Eu já o amava do jeito que ele era. Amava a essência dele, podia-se dizer, que era um encontro de almas e sendo almas o físico não importa e sim o que temos dentro de nós...isso foi o que pensei ao ver essa foto.
Mas o que recebi de volta foi uma grande gargalhada em forma de texto: LOL....LOL....LOL.........(laughing out loud ou rindo muito alto).  Não entendi nada e fiquei esperando ele parar de rir e me explicar o que era de tão engraçado nessa situação.
"Sweetheart", ele começou, você nunca ouviu falar na linguagem dos sinais dos surdos e mudos? Eu tenho uma prima, que ela é assim e ela me ensinou vários sinais. Este em especial, é para você, tirei essa foto para você, para te dizer, silenciosamente, sem que mais ninguém saiba, somente nós dois que: 
 
EU TE AMO.


 


segunda-feira, 26 de março de 2012

O REI LEÃO

Os dias se passavam e nada mudava na minha monótona rotina, cuidava da casa, de um filho pequeno, levar e buscar na escola, cuidar dos meus dois gatos e esperar pelo meu marido chegar, tarde da noite. Muitas vezes eu nem o via, ele chegava tão tarde e eu já estava dormindo.
Vivia muito solitária e sempre fui muito fantasiosa e criativa.
Teclar com o primo Rich passou a ser a coisa mais feliz do meu dia. Fazia as tarefas domésticas correndo, queria que logo chegasse a noitinha para "encontrar" com ele. Ele me dava toda a atenção que eu precisava.
Eu queria muito conhece-lo, pelo menos de foto e pedia que ele me mandasse uma, para ter idéia do rosto da pessoa com quem eu já sonhava e pode-se dizer, da pessoa que eu já amava!
A primeira foto que vi do Rich foi da tatuagem que ele tinha no braço, inspirada no desenho do Rei Leão, ele também era do signo de leão. Para mim ele era um rei mesmo. Dócil, educado, atencioso. Eu me sentia uma rainha dos trópicos ao estar com ele. Olhei 500 mil vezes para a foto, decorei cada pinta do braço dele, imaginando como seria seu rosto...
Engraçado como imaginava ele, uma espécie de marinheiro Popeye ..hahaha..ele serviu a Marinha, lutou na guerra do Vietnã e ao mesmo tempo que adorava estar com ele, tinha medo de que ele pudesse ser um Don Juan, conquistador, com uma mulher em cada porto. Porém o tempo me mostrou que ele era muito além disso tudo que eu imaginava....

domingo, 28 de agosto de 2011

The Neverland

Eu sempre amei os Estados Unidos. Desde pequena meu sonho era viajar para a terra dos Tio Sam.
Sabe quando a gente é criança e diz quando crescer eu vou para..Paris, Bora Bora, Japão, etc? Eu só tinha um destino: USA!!!
Sempre tive uma alma meio americana mesmo, adorava olhar os seriados, filmes, observar os hábitos deles. As festinhas "americanas" onde cada um trazia o que comer e beber (maior mico no Brasil, na época que eu era adolescente). Para mim tudo o que vinha da América era um Must, como essa camiseta que visto na foto aos 16 anos: Never Underestimate the Power of USA (nunca subestime o poder dos Estados Unidos).
Mas por força do destino, nunca pude colocar meu pé na terra prometida por isso acabei chamando de Neverland (Terra do Nunca).
Aos 15 anos, uma viagem para Disney furou por causa de grana, aos 20 entrei para um curso de guia de Disney, pois prometiam viagem de graça como trainee para os 5 primeiros, fiquei em 4o lugar e era tudo uma farsa, anos depois tive meu visto negado por não demonstrar laços fortes com o Brasil (ou seja, grana novamente), então cada dia mais os EUA virararam uma fantasia para mim. Algo intocavel!
O inglês sempre foi sonho..eu achava que falar inglês era a coisa mais linda desse mundo, adorava a lingua, ainda adoro, acho lindo eles falando tudo ao contrário. :-)
Entao imaginem para mim, no meio desse sonho, teclar com um legitimo americano, com todo o american way of life. Veterano do Vietna, pois lutou pelos US por amor a patria.Uau...isso era demais para meu doce coracao. Queria absorver tudo o que ele falava, cada detalhe do dia-a-dia, o que ele fazia, o que ele comia, me imaginava ao lado dele, seguindo seus passos, assim conseguia me sentir um pouco la do outro lado do hemisferio.
Todas as noites passaram a ser um pouco como uma viagem para a fantasia, para dentro dos meus sonhos, e ele preenchia tudo com tanto carinho, tanta dedicacao, e com uma compreensao alem das palavras. Acho que isso era o que mais me tocava no nosso relacionamento, ele me entendia, sabia o que se passava dentro de mim. Eu nao sabia Ingles o suficiente e muito menos ele entendia Portugues, mas a gente se entendia perfeitamente.
Pode parecer loucura, mas comecei a ficar apaixonada por ele, pelo jeito dele escrever, jeito de me tratar, pela espera durante o dia, pela excitacao, por tudo enfim...mas nunca tinha visto sequer, uma unica foto dele, sabia que ele era 20 anos mais velho do que eu, mas nada tinha importancia, o gostoso era aquele sentimento que eu tinha por ele.
Mas a curiosidade de ver o rosto dele comecou a agucar....

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ICQ - Iseek you


Começamos trocar email diariamente e logo meu "primo" Rich sugeriu que nos falássemos através do ICQ, um programa de mensagem automatica, como hoje é o MSN. A sigla significava I seek you (eu procuro você).
Foi um Deus nos acuda, gelei de pavor..rsrsrs..como eu ia conversar online com um legítimo americano??? Afinal nos emails eu tinha todo tempo do mundo para olhar o dicionário e pensar o que eu ia escrever, mas ali quase cara a cara não dava. Nananinão, impossivel, me recusei.
Mas diante da doce insistência dele, dizendo que me ajudaria, que entendia minhas dificuldades e que adoraria estar mais "próximo" de mim, eu cheia de medo, finalmente aceitei.
Ainda lembro como o programa era engraçado: a gente via a pessoa digitar e quando a pessoa errava, via o cursor voltando e apagando as letrinhas...como a tecnologia mudou!!!
Rapidamente nos acostumamos diariamente a teclar pelo ICQ e eu esperava ansiosa pelas horas que pássavamos juntos. Toda noite ficávamos de 3 a 4 horas teclando. Naquele tempo (me sinto uma vovózinha escrevendo isso.rsrs) a internet era via telefone, ou seja, enquanto vc usava a internet, seu telefone ficava ocupado! Sim, jovens, isso não é lenda, é real!!!
Mas eu não me importava, o prazer de falar com ele era maior que qualquer conta que eu tivesse que pagar.
Nesse período ficamos muito próximos, ele me contava sobre sua vida e eu sobre a minha. Sobre nossos filhos, sobre trabalho dele, sobre nossos casamentos. Sentia muito solidária com ele, quando ele falava sobre solidão, sobre coisas que sonhava e que não tinha. Era gozado o sentimento que começamos a sentir. Sentia ele como membro da família mesmo, tínhamos muita afinidade. E ele parecia "ler" dentro de mim. Sabia as dificuldades que eu tinha. Quando eu demorava a teclar alguma resposta, ele sabia que eu estava olhando o dicionário e sabia o que eu estava procurando. E sempre arrumava um jeito de explicar a palavra de outra forma. Praticamente era uma aula de inglês, gratuita. :-)
Não sei descrever o que comecei a sentir, mas era um misto de excitação, ansiedade, nostalgia e saudade. Passava o dia pensando na hora que ia ver "as letrinhas aparecendo na tela, vindas de um lugar tão distante". Lugar que costumei chamar de Neverland!

sábado, 23 de outubro de 2010

Meu "primo" Rich

O meu inglês era precário. Fiz aqueles cursinhos básicos, mas não falava nada e usava o dicionário para tudo, mas mesmo assim resolvi enviar um e-mail para o dono do site.
Conforme ele dizia no site, ele estava fazendo uma pesquisa e gostaria de conhecer pessoas com o mesmo sobrenome.
Tentei ser o mais formal possível e não cometer nenhum erro gramátical, pois sabia da fama dos americanos serem meio frios, coisa e tal.
Disse que eu era do Brasil, que meu nome era Sallada, mas meus bisavós eram de Portugal. Curta e direta. Nice to meet you Mr Richard. Goodbye!
Para minha grata surpresa, recebi uma resposta super calorosa, agradecendo o e-mail e ressaltando que ele ficou impressionado com o fato de ter família Sallada no Brasil, pois ele desconhecia isso mas que sempre teve um interesse muito grande no Brasil. Disse que tinha um sonho antigo, conhecer o Pão de Açúcar!!! Pois quando ele estava na 5a série, seu professor de Geografia veio ao Brasil e contou coisas muito bacanas sobre o país. Perguntou se eu morava perto, se já havia ido lá, etc.
Falou um pouco sobre sua vida. Estava no seu segudo casamento, tinha duas filhas do primeiro casamento, trabalhava em um hospital de crianças deficientes, na parte de manutenção, tinha cachorros e gatos. Gostava de música, de jardim e de cozinhar. Enfim, uma pessoa comum.
Pediu para que mantivéssemos contato. E assinou o e-mail como "Primo Rich".
Para quem quiser olhar, o site onde o encontrei ainda existe. Ele fez a última atualização em 2007 e o email dele mudou. Mas é muito emocionante para mim, entrar lá novamente, lembrar do antigo email e de como tudo começou. Era o universo conspirando....

http://familytreemaker.genealogy.com/users/s/a/l/Byron-R-Sallade/index.html,

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Família Sallada




Era o ano de 1999 e eu estava apaixonadíssima pela idéia de ser uma Sallada. Eu nasci sem o sobrenome materno e depois que me casei, entrei com um processo para adicionar o nome Sallada.

Desde então, comecei a pesquisar sobre a minha árvore geneálogica, meus antepassados, minhas raízes. Era uma espécie de terapia, tentando achar respostas, tentando me encontrar.

Li muitas histórias sobre a origem de nossa família, algumas muito românticas, de cavaleiros templários na França, cujos capacetes de proteção (helmet) seriam o significado do nome Sallada, outras menos românticas, porém engraçadas, onde esse nome vinha de um verdureiro português que vendia saladas. Seu Manuel das saladas.

Fiquei muito empolgada quando descobri uma cidade americana, na Pensilvânia, chamada Salladasburgh. Uau minha família era tão importante e eu nem imaginava...

Mas minha vida mudou completamente, quando achei o site sobre a genealogia da familia Sallada de um homem americano, residente em uma cidade pequena da Pensilvânia, Beaver Falls. Seu nome era Byron Richard Sallade. E eu nunca imaginei de que ele estaria entrando na minha vida para ficar....