domingo, 28 de agosto de 2011

The Neverland

Eu sempre amei os Estados Unidos. Desde pequena meu sonho era viajar para a terra dos Tio Sam.
Sabe quando a gente é criança e diz quando crescer eu vou para..Paris, Bora Bora, Japão, etc? Eu só tinha um destino: USA!!!
Sempre tive uma alma meio americana mesmo, adorava olhar os seriados, filmes, observar os hábitos deles. As festinhas "americanas" onde cada um trazia o que comer e beber (maior mico no Brasil, na época que eu era adolescente). Para mim tudo o que vinha da América era um Must, como essa camiseta que visto na foto aos 16 anos: Never Underestimate the Power of USA (nunca subestime o poder dos Estados Unidos).
Mas por força do destino, nunca pude colocar meu pé na terra prometida por isso acabei chamando de Neverland (Terra do Nunca).
Aos 15 anos, uma viagem para Disney furou por causa de grana, aos 20 entrei para um curso de guia de Disney, pois prometiam viagem de graça como trainee para os 5 primeiros, fiquei em 4o lugar e era tudo uma farsa, anos depois tive meu visto negado por não demonstrar laços fortes com o Brasil (ou seja, grana novamente), então cada dia mais os EUA virararam uma fantasia para mim. Algo intocavel!
O inglês sempre foi sonho..eu achava que falar inglês era a coisa mais linda desse mundo, adorava a lingua, ainda adoro, acho lindo eles falando tudo ao contrário. :-)
Entao imaginem para mim, no meio desse sonho, teclar com um legitimo americano, com todo o american way of life. Veterano do Vietna, pois lutou pelos US por amor a patria.Uau...isso era demais para meu doce coracao. Queria absorver tudo o que ele falava, cada detalhe do dia-a-dia, o que ele fazia, o que ele comia, me imaginava ao lado dele, seguindo seus passos, assim conseguia me sentir um pouco la do outro lado do hemisferio.
Todas as noites passaram a ser um pouco como uma viagem para a fantasia, para dentro dos meus sonhos, e ele preenchia tudo com tanto carinho, tanta dedicacao, e com uma compreensao alem das palavras. Acho que isso era o que mais me tocava no nosso relacionamento, ele me entendia, sabia o que se passava dentro de mim. Eu nao sabia Ingles o suficiente e muito menos ele entendia Portugues, mas a gente se entendia perfeitamente.
Pode parecer loucura, mas comecei a ficar apaixonada por ele, pelo jeito dele escrever, jeito de me tratar, pela espera durante o dia, pela excitacao, por tudo enfim...mas nunca tinha visto sequer, uma unica foto dele, sabia que ele era 20 anos mais velho do que eu, mas nada tinha importancia, o gostoso era aquele sentimento que eu tinha por ele.
Mas a curiosidade de ver o rosto dele comecou a agucar....

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ICQ - Iseek you


Começamos trocar email diariamente e logo meu "primo" Rich sugeriu que nos falássemos através do ICQ, um programa de mensagem automatica, como hoje é o MSN. A sigla significava I seek you (eu procuro você).
Foi um Deus nos acuda, gelei de pavor..rsrsrs..como eu ia conversar online com um legítimo americano??? Afinal nos emails eu tinha todo tempo do mundo para olhar o dicionário e pensar o que eu ia escrever, mas ali quase cara a cara não dava. Nananinão, impossivel, me recusei.
Mas diante da doce insistência dele, dizendo que me ajudaria, que entendia minhas dificuldades e que adoraria estar mais "próximo" de mim, eu cheia de medo, finalmente aceitei.
Ainda lembro como o programa era engraçado: a gente via a pessoa digitar e quando a pessoa errava, via o cursor voltando e apagando as letrinhas...como a tecnologia mudou!!!
Rapidamente nos acostumamos diariamente a teclar pelo ICQ e eu esperava ansiosa pelas horas que pássavamos juntos. Toda noite ficávamos de 3 a 4 horas teclando. Naquele tempo (me sinto uma vovózinha escrevendo isso.rsrs) a internet era via telefone, ou seja, enquanto vc usava a internet, seu telefone ficava ocupado! Sim, jovens, isso não é lenda, é real!!!
Mas eu não me importava, o prazer de falar com ele era maior que qualquer conta que eu tivesse que pagar.
Nesse período ficamos muito próximos, ele me contava sobre sua vida e eu sobre a minha. Sobre nossos filhos, sobre trabalho dele, sobre nossos casamentos. Sentia muito solidária com ele, quando ele falava sobre solidão, sobre coisas que sonhava e que não tinha. Era gozado o sentimento que começamos a sentir. Sentia ele como membro da família mesmo, tínhamos muita afinidade. E ele parecia "ler" dentro de mim. Sabia as dificuldades que eu tinha. Quando eu demorava a teclar alguma resposta, ele sabia que eu estava olhando o dicionário e sabia o que eu estava procurando. E sempre arrumava um jeito de explicar a palavra de outra forma. Praticamente era uma aula de inglês, gratuita. :-)
Não sei descrever o que comecei a sentir, mas era um misto de excitação, ansiedade, nostalgia e saudade. Passava o dia pensando na hora que ia ver "as letrinhas aparecendo na tela, vindas de um lugar tão distante". Lugar que costumei chamar de Neverland!